15 de maio de 2012

se meu cabelo falasse...


No filme “Se Meu Apartamento Falasse” (1960), obra prima de Billy Wilder ganhador do Oscar de 1961, o personagem de Jack Lemmon elogia o cabelo curtinho da ascensorista vivida por Shirley MacLaine. O diálogo segue com a moça revelando seu arrependimento com o corte.

spacer
Shirley MacLaine e Jack Lemmon, em "Se Meu Apartamento Falasse".

A cena apresenta a mulher que será o objeto de desejo do protagonista, um funcionário de uma empresa de seguros que empresta seu apartamento para seus chefes levarem as amantes em troca de uma rápida ascensão profissional. O elogio ao corte de cabelo faz parte do jogo de ações que delimitam as características do papel de Lemmon. Ao longo do filme revela-se o caso da moça com um dos usuários da garçonière. Em um dos diálogos, o marido infiel em questão, comenta ao seu funcionário seu desencanto pelo novo visual da moça. Forma-se aí um contraponto entre os dois personagens.

***
Semana passada morreu Vidal Sassoon. Um cabeleireiro, cujo legado para o mundo da beleza pode ser comparado ao de Yves Saint Laurent na moda. Para desenvolver seus penteados se inspirava na arquitetura e na arte concreta. Esse videozinho (em inglês) do Telegraph, explicita as referências do coiffeur.


As tesouras de Sasson deram forma ao sentimento de liberdade que permeava as jovens da década, inconformadas e cansadas da submissão.

spacer
A atriz inglesa Keira Knightley com um cabelo à la Sassoon

***

spacer
Michelle Williams, fã dos cabelos curtos na Elle Inglesa de dezembro de 2011

A atriz norte-americana Michelle Williams, em entrevista à Elle inglesa em dezembro do ano passado, declarou que só os gays e as mulheres gostam do seu cabelo curto, mas que o mantém assim em homenagem ao único homem heterossexual que apreciava o corte, nas entrelinhas o ator Heath Ledger (1979-2008). Guardadas as possíveis generalizações, a fala não está de todo equivocada. Para pensar... em pleno 2012 Sansão e Dalila com papéis trocados?

11 de maio de 2012

pequena fashionista falando como gente grande

A blogueira mirim Tavi Gevinson, cresceu e até dá palestra no TED. Ela participou da edição Teen do evento. O título de sua palestra foi "Still Figuring it Out". Ela se considera feminista e recomenda a todos que sejam como a cantora Steve Nicks. Vale a pena assistir.
Ah! O vídeo pode ser visto no site do YouTube com close caption em português, by google tradutor com alguns erros divertidos.


9 de maio de 2012

a cartilha do coolhunter

“Coolhunter”: o caçador de tendências. Parece uma das profissões mais legais do mundo. Viajar, observar pessoas, visitar museus, lojas de roupas e lugares descolados fazem parte do dia-a-dia do trabalho.

De uns tempos pra cá o assunto ganhou popularidade, por isso achei o livro “Coolhunters: Caçadores de tendências na moda”, escrito pela espanhola Marta Domínguez Riezu (ed. SENAC São Paulo, 2011), bastante esclarecedor.

Para a autora, o cool “não pode ser fabricado, e sim observado” e sua descoberta é intuitiva. O livro de pouco mais de 100 páginas e amplamente ilustrado por fotos de objetos, obras de arte e imagens de moda, desmistifica esse trabalho dos sonhos (continua legal!), e exemplifica os meandros do mercado.


spacer



Cartilha do coolhunter:

Objetivo: 
  • buscar a inovação, e não se deixar seduzir pelo novo.

Características exigidas: 
  • organizado, curioso e sensível.
  • ter um quê de jornalista para constrastar informações.

Material didático:
  • máquina fotográfica,
  • internet com conexão rápida
  • revistas cheias de imagens, 
  • livros escritos por sociólogos, antropólogos e filósofos - as reflexões sobre o mundo que surgirão depois destas leituras ajudam a esquentar o motor da inquietação exigida pela profissão.

Lição de casa semanal:
  • Estar sempre na rua e observar tudo: espaços públicos, padaria, bares, floricultura, pequenos comércios
  • Ir ao cinema e ao teatro (“E” não “OU”, segundo a autora).
  • Visitar museus e exposições
  • Xeretar lojas de música, de eletrônicos, roupas e supermercados
  • Fuçar em livrarias, e não ter preconceitos com os títulos de auto-ajuda porque eles revelam o zeitgeist.
Mantra: 
A internet é sua ferramenta, e não a matéria prima principal.



O termo “coolhunt” foi usado pela primeira vez em 1997. Serviu de título para a matéria do jornalista Malcom Gladwell para a New Yorker. No artigo ele narra como a diretora da Converse descobriu o desejo dos jovens de Boston por tênis com um jeito retrô. 

Riezu argumenta que todo jovem é um coolhunter em potencial. Porém, para sê-lo de fato é preciso ser dotado de uma grande capacidade de abstração, porque a matéria prima deste profissional está nas entrelinhas. A informação genérica não interessa.
Para descobrir o tal “cool” é preciso se aproximar de pessoas “cools”. E estas quase nunca sabem que o são. Estes indivíduos são detentores de um comportamento inovador.


spacer
imagem do livro - Sala do Ministério da Cultura da Dinamarca


A moda é um prato cheio para os coolhunters. Tem uma relação visceral com a rua. Nela tem sua inspiração e seu fim. “É rápida, acessível, personalizável, reciclável e interpretável”. Pensei que uma boa metáfora para explicar a relação que os coolhunters têm com a moda é a drosófila. Nas aulas de genética da escola a mosquinha era sempre o exemplo usado pela professora por ter seu ciclo de vida curto, e por isso sua evolução geracional fácil de analisar pelos cientistas.

A moda como está estruturada hoje, tem o objetivo de criar um eterno sentimento de insatisfação. “O que vende é a esperança”, cita Diana Vreeland.

O coolhunter trabalha para uma empresa de pesquisa de tendências que reúne informações que antecipam comportamento futuros. Essa empresa, e há muitas do tipo no mundo, elabora um relatório vendido a um preço alto para outras empresas, sejam elas de varejo, meios de comunicação, indústrias. Com essa espécie de bola de cristal nas mãos a equipe de marketing se sente mais segura para fazer suas apostas futuras (aumentar lucros e minimizar perdas), sejam elas uma cor em um desfile de moda, um programa de televisão ou uma embalagem com determinado design.


spacer


Sendo assim, a marca que sabe aproveitar bem um relatório de tendências sai na frente. O desejo vai além do produto, torna-se o querer de um estilo de vida. A autora diagnostica: “seremos a primeira cultura da história definida por suas marcas e não pelos seus povos”.

(Esses dias alguns "amigos", no sentido facebook da palavra, compartilharam em suas respectivas timelines a seguinte imagem: “the illuson of choice” . Acho que tem bem a ver com essa frase)

Voltando para o processo do coolhunter, a autora lista as categorias de consumidores. Nomes me inglês que descrevem a relação que tal ou tal pessoa têm com as tendências. Os “early adopters” são os primeiros. Aqueles que descobrem e colocam a tendência em prática. Os “laggards” são aqueles que só consomem depois que a coisa está devidamente mastigada e digerida. Ou seja, para descobrir o que é “cool” é preciso descobrir quem está na primeira categoria. Os coolhunters costumam ir atrás de jovens porque são mais destemidos com novidades. Logo, para desbravar o cool é preciso se relacionar com o mundo real, e com pessoas reais, e evitar os pré-conceitos, e os preconceitos.

(Em uma reportagem da CNÑ uma professora de sociologia da Universidade de Miami falou que as empresas americanas já estão com dificuldades para encontrar gestores porque os jovens estão com dificuldade de relacionamento interpessoal. Observando o campus, ela notou que os estudantes estão conversando pouco e só ficam interagindo com seus respectivos celulares. Se continuar assim, os coolhunters vão sofrer pra descobrir o “cool”)

Talvez em uma atitude auto-reflexiva, a autora critica a atitude dos próprios coolhunters, usando como exemplo seus perfis na web: “sempre escritos em terceira pessoa, e com informações conflitantes: 'estudou na Saint Martins, mas usava o uniforme ao contrário, como o príncipe de Bel-Air (personagem do Will Smith na série Fresh Prince of Bel-Air)'. A bronca é: não precisa ser cool pra ser coolhunter. 


spacer
Emergency money box - cofre.

gipoco.com is neither affiliated with the authors of this page nor responsible for its contents. This is a safe-cache copy of the original web site.