| |
Plato
-428/-347
O mais importante de todos os discpulos de Scrates foi Plato (gr.
Πλάτων), que exerceu
enorme influncia na filosofia, na religio, na educao, na literatura e at mesmo
na lngua grega. O filsofo Alfred Whitehead (1929) afirmou, com evidente exagero,
que a histria da Filosofia "no passa de uma sucesso de notas de rodap da obra de
Plato".
Biografia
Plato nasceu em Atenas, por volta de -428, e era membro de uma
aristocrtica e ilustre famlia. Descendia dos antigos reis de Atenas, de Slon e
era tambm sobrinho de Crtias (-460/-403) e Crmides, dois dos "Trinta
Tiranos" que governaram Atenas em -404. Lutou na Guerra do
Peloponeso entre -409 e -404, e a admirao por
Scrates, que conheceu em algum momento desse perodo, foi decisiva em sua vida.
Saiu de Atenas em -399, aps a execuo de Scrates, e passou os 12 anos
seguintes viajando. Por volta de -387 visitou a Magna Grcia, e em
Taras (Tarento) conheceu o poltico e matemtico Arquitas (c.
-400). Em Siracusa, tornou-se amigo de Don
(-408/-354), jovem parente de Dionsio I, o tirano que governou a
cidade de -405 a -367. Em razo de atritos com o tirano,
foi expulso e vendido como escravo em Egina, ento inimiga dos atenienses.
Resgatado por um amigo, retornou a Atenas e fundou por volta de -385
a Academia[1], prottipo de todos os colgios e
universidades atuais. A escola era dotada de alojamentos, refeitrio e salas de
leitura, onde Plato e seus alunos passavam o tempo estudando e discutindo
matemtica, astronomia, msica e, claro, filosofia. Sua inteno era formar homens
de princpios elevados, preparados para exercer funes polticas de destaque em
suas comunidades.
Em -365 e em -361 esteve novamente em Siracusa, a pedido do amigo Don, numa
tentativa intil de transformar o jovem Dionsio II (-367/-342), filho
e sucessor de Dionsio I, no "rei-filsofo" que idealizara. Desiludido
com a dificuldade de colocar em prtica suas idias filosficas, Plato no mais
saiu de Atenas. Dedicou-se somente Academia e aos seus escritos at
-347, quando morreu.
Obras sobreviventes
Todos os 43 dilogos e treze cartas atribudos a Plato pelos antigos, mas
no necessariamente escritas por eles, chegaram at ns. Dentre eles, somente 27
dilogos e as cartas VI, VII e VIII so considerados autnticos; muitos eruditos,
porm, acreditam que todas as cartas criadas posteriormente, para dar um arcabouo
histrico aos dilogos.
Alguns epigramas atribudos a ele tambm sobreviveram, mas a crtica moderna no
os considera de sua autoria (veja aqui um
exeplo).
A forma do "dilogo platnico" (tambm chamado, s vezes, de "dilogo socrtico")
, do ponto de vista literrio e filosfico, uma discusso filosfica com estrutura
dramtica. Esse formato recebeu fortes influncias do mimo siciliano mas, com
Plato, o dilogo adquiriu o status de gnero literrio independente. Devido
pureza e correo da linguagem, a prosa de Plato tambm considerada um dos
paradigmas do dialeto tico.
Na impossibilidade de datar individualmente cada um dos dilogos, costume
agrup-los em relao data das viagens de Plato Siclia. A anlise
do estilo e do contedo permite, tambm, orden-los de forma mais ou
menos cronolgica (Young):
- 1 Grupo (-399/-387)
Apologia de Scrates, Crmides, Crton, Eutidemo,
Eutfron, Grgias*, Hpias Maior, on Laques,
Hpias Menor, Lsis, Menexeno, Mnon e
Protgoras;
- 2 Grupo (-387/-367)
Crtilo, Parmnides, Fdon, Fedro , O
Banquete, A Repblica e Teeteto;
- 3 Grupo (-360/-347)
Crtias, Leis Filebo, O Sofista, O Poltico e
Timeu*.
Alguns eruditos colocariam os dilogos marcados com um (*) no 2 Grupo.
Nos dilogos do 1 Grupo, ditos "socrticos" ou da juventude, Plato
transmite as idias e os mtodos do Scrates histrico; nos dilogos do 3
Grupo ou da velhice, apresenta suas prprias idias, em geral independentes das
de Scrates. Scrates, no entanto, continua como personagem dos dilogos, por uma
questo de fidelidade ao estilo literrio. Os dilogos do 2 Grupo, ou da
maturidade, so intermedirios e apresentam algumas idias de Scrates, mescladas
aos primeiros pensamentos independentes de Plato.
O pensamento platnico
Alm de Scrates, Plato teve outras influncias, como por exemplo os
pitagricos, Herclito e Parmnides. Sua filosofia contm, basicamente, dois
elementos: o metafsico e o moral.
A famosa "teoria das formas" — com frequncia erradamente traduzida por
teoria das idias — a mais importante contribuio platnica
filosofia. Segundo Plato, o mundo sensvel (o que se apreende pelos
sentidos), variado e mutvel, apenas um aspecto do mundo real, constitudo
por formas puras, fixas e imutveis que s podem ser conhecidas intelectualmente,
atravs da razo pura.
Plato, como os pitagricos, acreditava que a alma j existia antes do corpo,
continuava a existir aps a morte e posteriormente entrava em novo corpo prestes a
nascer. Em estado puro, era a alma capaz de contemplar sem obstculos o Mundo das
Formas; ao adentrar um novo corpo, porm, ocorria um choque e
produzia-se o esquecimento. Mas, traos dessa contemplao permaneciam
no esprito e podiam ser eventualmente reativados. Para conhecer, portanto, era
preciso relembrar.
A forma suprema a do Bem, capaz de tornar compreensveis todas as demais. O
verdadeiro conhecimento o conhecimento do Bem. O filsofo, de todos o mais apto a
adquirir esse conhecimento, consequentemente o mais apto a governar a plis
ideal.
|