Javier Garcia Torea: "O reintegracionismo é Punk"

Nestes momentos, a minha visão mudou bastante, ao estudar português, eu, um falante nativo que de quatro palavras duas são castelhanismos, também vê que esta é a única forma de criação dum padrão de língua nacional da Galiza”

Sexta, 30 Novembro 2012 00:00

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PGL - Javier Garcia Torea é estudante de filologia galega, falante de berço de Esteiro, ex-anti-reintegracionista, não gosta da estratégia utilitarista não sendo que se use para combater utilitarismo e vê no reintegracionismo a única forma de alcançar uma língua nacional.

Javier é de Esteiro e falante de berço. Costuma afirmar-se que os neo-falantes são mais receptivos à estratégia luso-brasileira. Concordas?

Sinceramente, sim. Quando não conhecia bem este tipo de estratégias, uma das cousas que dizia na sua contra era que os mais dos seus seguidores eram neo-falantes que não mamaram o galego, só eram nacionalistas “exaltados” que não conheciam nada do que era o nosso idioma.

Nestes momentos, a minha visão mudou bastante, ao estudar português, eu, um falante nativo que de quatro palavras duas são castelhanismos, também vê que esta é a única forma de criação dum padrão de língua nacional da Galiza.

Agora estás a usar o galego-português na tua escrita. Como tem sido a receção nas tuas redes sociais?

Pois ao princípio é negativa, as pessoas conhecidas não assumem a tua visão já que é mui diferente da “popular”. Em grande parte entendo esta reação posto que é muita mudança, mas uma cousa que se deve fazer a respeito do que observarmos é a analise e a crítica do visto. O assunto neste senso é que normalmente as amizades fazem uma crítica, as mais das vezes, destrutiva, fruto do estranhamento. Neste aspeto, a única solução acho que é pedagogia desde crianças, cousa muito difícil por outra banda.

Javier estuda Filologia Galega na USC. Qual o conhecimento da estratégia reintegracionista entre os teus companheiros e companheiras?

Nestas alturas, terceiro curso, o conhecimento acho que é limitado. Eu em primeiro pouco sabia deste tipo de ideologias, mas se tu quiseres a informação ela está aí, há palestras, gente interessada e grandes eminências que publicam assiduamente.

Pessoalmente, tive a sorte de coincidir com uma série de companheiros e companheiras que lhe interessava a nossa língua e a sua sobrevivência portanto foi uma grande vantagem.

Outra cousa que convém dizermos é que muita gente que tem conhecimento do assunto não quer saber mais por preconceitos, sobretudo contra Portugal; a meu ver, a pedagogia é um assunto mui complicado já que se as pessoas interessadas em língua não quiseram conhecer mais, que se pode esperar do resto?

Por que achas que o reintegracionismo é uma estratégia melhor para a nossa língua na Galiza?

A minha visão no tema linguístico é sempre crítica com o estabelecido e procura a normalização linguística total; portanto, o reintegracionismo critica o estabelecido, critica às instituições e as suas decisões (o reintegracionismo é Punk).

Aliás, também acho que uma das causas da perda de falantes na Galiza é a visão de que não tem futuro, que é uma língua de quatro; tenho que dizer que não gosto da estratégia utilitarista como mecanismo principal, mas posso gostar de utilitarismo para combater utilitarismo. Se me dizem que o galego não tem saída eu negarei-no até o fim.

Como conheceste o reintegracionismo e que te impulsionou a dar o salto para o galego conetado com a Lusofonia?

Comecei-me a interessar no ano passado graças a uma palestra entre Henrique Monteagudo e Pilar Garcia Negro (ainda que pareça mentira isto é real), esse dia deu uma volta na minha cabeça. Mas tenho de dizer que a visita a filologia do Celso Álvarez Cáacamo foi fundamental na minha andaina; estes factos junto com a docência de José Luís Rodriguez e as continuas conversas com os meus companheiros e companheiras fizeram-me debruçar sobre um novo abrente de luz na filologia e planificação linguística galega.

Quais pensas que seriam as chaves para a nossa estratégia alcançar mais difusão?

A meu ver são duas, para atingirmos este fim o piar básico é a presença da variante lisboeta na educação básica. Neste senso, há que dizer que as crianças estamos a estudar inglês quinze anos e não conhecemos a quarta parte desse idioma, se este tempo o utilizarmos em aprender línguas românicas conheceríamos todas as existentes.

Polo que observo na minha experiência isto vai ser impossível (as instituições políticas não creio que o permitam), o que nos resta é tentarmos educar as crianças nos institutos do país e que vejam novas estratégias de normalização e dignificação da sua língua.

Qual linha estratégica achas melhor para o ensino secundário: disciplinas de português Língua Estrangeira ou incluir nos planos de estudo de galego unidades centradas na Lusofonia?

Acho que o primeiro passo tem de ser a presença do português como língua estrangeira, isto facilitaria bastante a nossa empresa já que os rapazes veria rapidamente os profundos laços que unem a língua do além-Minho com a sua. Esse seria o primeiro estádio face a uma reforma normativa, acho que é claro que conhecermos a norma portuguesa desde crianças facilitaria o trabalho do reintegracionismo.

Por que te tornaste sócio da AGAL? Que esperas da associação? Que gostarias de dar?

Esta questão é bastante complexa. Fez-me sócio porque nestes tempos complicados em que a minha língua perde falantes à diário creio que é o melhor que posso fazer, a minha língua necessita ativismo linguístico das pessoas que temos consciência linguística.

Isto não deixa muito claro as cousas, por que a AGAL? A meu ver a entrada da Galiza na lusofonia a com ela a criação duma língua nacional em sentido amplo (é claro que este castelhano disfarçado não leva a nenhures) é uma boa solução para a dignificação do meu idioma.

Imagina uma fotografia linguística da Galiza em 2020. Como gostarias que fosse?

Vou ser bastante humilde e sem tocar temas reintegracionistas, com que o 70% de pessoas entre dez e vinte anos falassem galego seria um grande progresso para Galiza.

Quanto à norma, e sendo humilde novamente, se em 2020 as autoras e autores do País escrevessem como diz Freixeiro Mato no seu Língua de Calidade estaria bastante contente, ainda que não se dê o passo completo (e fundamental) para a lusofonia mas chegando a um nível de descastelhanização elevado.

No entanto, sou bastante humilde a causa de que vivo no mundo e na sociedade atual e vejo os fortes preconceitos que há sobre estes temas e portanto, falarmos de cê cedilhados e de ene agás em 2020 seria irreal.

 

Conhecendo Javier Torea

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Um sítio web: www.google.com

Um invento: o sofá.

Uma música: um momento?

Um livro: Cousas de Castelão.

Um facto histórico: a descoberta de América (antes bem a película que se fez dum herói que realmente foi assassino cultural).

Um prato na mesa: frango.

Um desporto: ténis.

Um filme: Shutter Island.

Uma maravilha: A Pedra do Quadro em Esteiro.

Além de galego/a: intento de feminista.

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