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Sobre Magritte, Tarkovsky e o prazer em errar

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13 de June de 2012, às 7:03 AM

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Por Mirian Bottan

@mbottan | mbottan@gmail.com

  • E mais uma vez eu fui conduzida pela vida para um caminho completamente novo e maluco. Dessa vez, mais madura e consciente, eu tenho noção do tamanho julgamento que me aguarda e que outrora me apavoraria.

    Só que agora algo muito louco ocorre: eu não estou conseguindo me preocupar com as impressões de quem assiste de longe essa nova realidade, porque estou muito ocupada me julgando e me sentindo eufórica cada vez que descubro um defeito a ser corrigido.

    Eu estou – e é isso mesmo – apaixonada pelos meus erros e deficiências.

    Esses dias vi um filme que me estapeou com a melhor definição dessa porra toda que eu disse aí:

    “Deixe tudo o que foi planejado virar realidade. Deixe-os acreditar. E deixe que eles riam  de suas paixões. Porque o que eles chamam de paixão, na verdade não é uma energia emocional, mas apenas o atrito entre as suas almas e o mundo exterior. E o mais importante, deixe-os acreditarem em si mesmos. deixe-os serem indefesos como crianças, porque a fraqueza é uma grande coisa e força não é nada. Quando um homem acaba de nascer, ele é fraco e flexível. Quando ele morre, é duro e insensível. Quando uma árvore cresce, é tenra e flexível. Mas quando é seca e dura, ela morre. Dureza e força são companheiros da morte. Flexibilidade e fraqueza são expressões de frescor do ser.” (Stalker – de Tarkovsky, 1979)

    Depois de uma certa idade, é muito mais comum (e CÔMODO) olhar pra um novo desafio com pânico do que enxergá-lo com a empolgação de uma criança que compra material escolar novo e chega no primeiro dia de aula, com aquele frio na barriga, mas querendo que tudo aconteça logo. Querendo conhecer os professores, os futuros amigos, querendo abrir o caderno e usar as canetas novas, querendo absorver a matéria e tirar um dez na prova final.

    Meu caderno e minhas canetas são minha voz e minha imagem, minha prova final é sentar no sofá e ver na tela da tv algo do qual eu mesma me orgulhe.

    Essa falta de medo me lembra um outro maluco que anda pelos becos das viagens existenciais comigo há algum tempo: o mano Magritte, que um dia falou da “ruptura com o conjunto de absurdos costumes mentais que geralmente ocupam o lugar de um sentimento autêntico da existência”

    Meu sentimento autêntico da existência é viver o sentimento de criança no primeiro dia de aula. O conjunto de costumes absurdos é eu foder com um processo de aprendizagem, concentrando energia no que os críticos de sofá vão falar de mim.

    Ainda no role Magritteano, cito que “a imbecilidade consiste em crer que compreendemos o que não compreendemos”, uma versão mais violenta do só sei que nada sei. De qualquer forma, ambos vão direto e reto no cerne do meu momento. Porque é nada sabendo que eu vou aparecer na casa de vocês toda terça, às 22h30, no programa A Liga, na Band, falando umas abobrinhas, perguntando, chorando e vivendo ligada em 220 até entender um pouco mais da vida. E já aviso que vou ter olheiras. Cansei de ser sexy, internet.

    Eu sei, eu sei, faz três meses que eu não atualizo e daí eu apareço com essas balelas. Mas esse é meu diário né. E na verdade, é tudo pra tentar dizer pra vocês que o medo, na verdade, está sempre lá tipo uma furadeira na cabeça, mas, finalizando a sessão quotes: “a coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, E NÃO A AUSÊNCIA do medo.”

    Resumindo a merda toda: não sejam cagões. Tem muita gente que vive pra transformar a vitória alheia em chacota e nenhum deles sabe agir quando a chacota vira vitória.

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